O que mudou no universo da Dor nos últimos 35 anos

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A SBED – Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor foi constituída por iniciativa de um grupo de médicos que participou do 1º Simpósio Brasileiro de Tratamento da Dor, realizado em São Paulo, em 1982. A fundação oficial aconteceu no dia 29 de agosto de 1983. Em agosto de 1984, durante um congresso mundial em Seattle (EUA), a SBED foi reconhecida como Capítulo Brasileiro (IASP Brazilian Chapter) da Sociedade Internacional para o Estudo da Dor – International Association for the Study of Pain- IASP.

Sua história representa importantes conquistas para o estudo da dor. A Sociedade tem aglutinado profissionais de várias especialidades, que pensam melhores formas de diagnóstico, além de entender melhor causas e tratamentos para diversas patologias.

Para resgatar os principais marcos da dor, Dra. Mirian Martelete, a primeira mulher a ser eleita presidente da sociedade, narra as principais conquistas nas últimas décadas. Confira!

SBED - Gostaríamos de começar voltando a 1983, para entender melhor o cenário da dor na época em que a SBED foi criada. Pode comentar brevemente sobre a percepção da sociedade e da medicina sobre a dor? Como ela era vista, o que era feito a respeito?

Dra. Mirian Martelete - Em 1983, as mulheres brasileiras já sabiam que poderiam optar por analgesia obstétrica, livrando-se da dor do parto e tornando-o mais seguro para a mãe e para o bebê. No entanto, a dor pós-operatória e o sofrimento gerado pelo câncer ainda não eram considerados relevantes na abordagem médica. Mas, por sugestão da IASP a Organização Mundial da Saúde já estava esboçando suas diretrizes para o programa “Cancer pain free till the Year 2000”, que foi definido apenas em 1986 com a publicação do manual “Cancer Pain Relief” em 1986.

SBED - Quais você considera as maiores conquistas e mudanças nesses 35 anos?

Dra. Mirian Martelete - No Brasil, a maior conquista foi a reintrodução da morfina e sua formulação oral na farmacopeia brasileira, (esta havia sido “banida” no governo militar,) permitindo que tivéssemos condições de combater com eficácia a dor do câncer. Junto ao seu tratamento, começaram a ser abordados os outros sintomas desconfortáveis dessa doença, humanizando o atendimento médico e afastando o espectro da eutanásia. Abriu-se dessa maneira o espaço para o desenvolvimento da Medicina Paliativa.

A clarificação dos termos eutanásia, ortotanásia e distanásia motivou a reconsideração sobre tratamentos vãos ou desnecessários, conscientizando a classe médica sobre aspectos cruéis de certas condutas, principalmente as invasivas, quando empregadas sem comprovação da eficácia. Estes avanços contaminaram toda a classe médica e os demais trabalhadores da saúde reavivando o conceito Hipocrático de “primum non nocere”.

SBED - Como você gostaria que a dor fosse tratada pelos profissionais de saúde no futuro?

Dra. Mirian Martelete - O futuro da medicina é maravilhosamente desafiador. Em paralelo à cura de diversas doenças, há o inevitável prolongamento da vida, hoje concretizado com pelo prolongamento da velhice. Este estágio da vida é o que concentra a maior incidência de dores crônicas, bem como de limitações físicas e mentais.

O maior papel do especialista em dor será o de alertar e reeducar as pessoas, desde a juventude, para a profilaxia das dores crônicas da velhice, uma vez que estas são o reflexo de hábitos insalubres adquiridos no decorrer da vida. Alimentação, má postura e sedentarismo terão de ser vigorosamente controlados para permitir vida útil até os cem anos.

SBED – Agradecemos as contribuições! Fique à vontade para outras considerações.

Dra. Mirian Martelete - O mapeamento e manipulações genéticas serão as grandes ferramentas para permitir a longevidade sem sofrimento e com redução do período senil. Porém eu não creio que isso vá reduzir a responsabilidade do indivíduo com relação à sua qualidade de vida. Mas é maravilhosamente instigante saber que no futuro o homem vai poder decidir o quanto e como quer viver.

Com tudo isso, a SBED completa 35 anos e encontra fôlego nas conquistas das últimas décadas para planejar e cumprir novos objetivos de vital importância para os que sofrem com as dores e para os que se dedicam a curá-la!
 

Fontes e Referências

Dra. Mirian Martelete – Porto Alegre/RS
Ex-presidente da SBED (1992-1993)
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